segunda-feira, 27 de maio de 2013

Irlanda do Norte - Dia 1 - Derry/Londonderry 2

Derry ou Londonderry ainda está muito marcada pelo Bloody Sunday e outros episódios violentos entre protestantes e católicos. Aliás, os sinais de trânsito que dizem Derry/Londonderry têm sempre um graffiti a riscar uma das palavras. Os católicos detestam tudo o que tenha a palavra "London" e recusam o nome "Londonderry". Para não correr o risco de ofender ninguém é melhor chamar à cidade de Derry/Londonderry e aos seus habitantes Derrianos/Londonderrianos. Não é muito prático. Arranjem um novo nome por favor.

DerryLondonderry é uma cidade muralhada - os muros dão a volta à cidade em 1.5km. Enquanto que dentro das muralhas vivem os protestantes, do lado de fora das muralhas encontramos o bairro de Bogside onde vivem os católicos que ainda hoje pintam os nomes das mártires do conflito nas muralhas. Cada vez que Londonderry tenta erguer uma estátua comemorativa nas muralhas, os católicos de Bogside-Derry destroem o projecto com uma bomba! Em Bogside existem alguns murais e o museu Free Ferry. Resolvemos visitar o museu porque tem uma visita guiada à cidade.


Este mural Free Derry é muito conhecido mas parece ser uma imitação de um mural americano alusivo à guerra do Vietname. Curiosas é a frase escritas em baixo "ding dong the witch is dead" referente à recente morte da Thatcher, que era verdadeiramente odiada pelos católicos irlandeses. Uma vez quase que a conseguiram assassinar com uma bomba numa conferência em Brighton em Inglaterra. Aparentemente no dia do funeral houve uma grande festa em Bogside, alguém escreveu aquelas palavras e agora ninguém tem coragem de as tirar do principal mural que representa o conflito da cidade.




Em cima está a entrada do Museu Free Derry, um museu de pequenas dimensões com fotografias e alguns itens referentes ao conflito. À porta do museu existe um mural da Palestina, cujo conflito os irlandeses consideram semelhante ao seu.


Esta é a vista das muralhas para Bogside, a parte dos católicos. A paisagem é toda muito igual e lembra as partes mais pobres do Reino Unido.

O guia do museu era um velhote muito simpático de bóina que tresandava a álcool. Levou-nos aos murais contando a história mais recente do conflito, sob o ponto de vista dos católicos. Dizia de cor os nomes de todas as pessoas que morreram no conflito, algumas dos quais ele conheceu pessoalmente. Quando falou do irmão, preso na greve de fome, o guia não conseguiu esconder a emoção e uma lágrima ou outra surgiu. O ódio está bem presente e pela ideia que o guia nos deu não há perdão possível, os católicos nunca se vão esquecer de como foram tratados pelo poder inglês - tratados como pessoas de segunda categoria, sem direitos civis - sendo que Londres nunca deu grande importância à situação, achando as queixas irrelevantes e não tendo paciência para aturar as atitudes violentas do IRA. Mas nem tudo é mau - o guia disse muito bem do Primeiro Ministro David Cameron, que há pouco tempo se dignou a ir a DerryLondonderry, convidando as famílias das vítimas do Bloody Sunday a assistirem a uma cerimónia para reconhecer o sofrimento passado sem tentar arranjar desculpas esfarrapadas como os políticos anteriores o fizeram. 

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