segunda-feira, 11 de março de 2013

O Meu Segundo Funeral Aqui no Reino Unido


No mês passado o pai da Hannah (uma das enfermeiras da clínica) morreu inesperadamente devido a consequências de uma gripe. A Hannah não foi trabalhar durante 10 dias. Aqui têm-se direito a três dias de licença (remunerados ou não dependendo da simpatia do empregador, chama-se a "compassion leave") e depois se for necessário usam-se os dias de férias (se os houver). Não é muito tempo depois de uma situação de choque como esta. Quando estava a trabalhar no  matadouro um dos empregados não pode tirar o dia para ir ao funeral da mãe, foi ameaçado se assim o fizesse escusava de voltar à fábrica no dia seguinte. Que sociedade é esta que não respeita os mortos nem os familiares. 

O corpo do pai da Hannah ficou numa "Chapel of Rest" ("capela do descanso") durante uma semana até ao dia do funeral, o que foi considerado muito rápido. Aqui os funerais demoram bem mais de uma semana para serem organizados. Quando eu digo que acho isso muito tempo os ingleses ficam sempre muito chocados porque estão habituados à ideia de haver um "intervalo" grande. 

O funeral demorou aproximadamente 30 minutos e decorreu num crematório, que tem uma sala para a cerimónia (foto). 



O caixão estava num altar envolvido por uma cortina eléctrica que no final lentamente se fechou. O Reverendo (Revd. Father Davies, Vicar of Pembrey) disse umas palavras sobre o pai da Hannah e a seguir todos nos juntámos para cantar um salmo e dois hinos. Eu tentei seguir o folheto que nos tinham dado, mas a verdade é que não consegui, por isso tive de fingir. No final fomos cumprimentar a família da Hannah. Voltámos ao trabalho, mas quem quisesse podia seguir com a família da Hannah para um "buffet" num hotel ali perto. Quando eu estava a sair da igreja em direcção ao carro, outro funeral estava a começar. Viam-se outras pessoas a entrar dentro da igreja seguindo outro caixão. Mas desta vez a música saída da igreja era bem diferente. Era a música do Darth Vader da Guerra das Estrelas, tam, tam tam tam, tam tam tam, tam tam tam.

Só por curiosidade, este foi um dos hinos cantados durante a cerimónia. 


O Lord my God, When I in awesome wonder,

Consider all the worlds Thy Hands have made;
I see the stars, I hear the rolling thunder,
Thy power throughout the universe displayed.



Then sings my soul, My Saviour God, to Thee,
How great Thou art, How great Thou art.
Then sings my soul, My Saviour God, to Thee,
How great Thou art, How great Thou art!



When through the woods, and forest glades I wander,
And hear the birds sing sweetly in the trees.
When I look down, from lofty mountain grandeur
And see the brook, and feel the gentle breeze.



And when I think, that God, His Son not sparing;
Sent Him to die, I scarce can take it in;
That on the Cross, my burden gladly bearing,
He bled and died to take away my sin.



When Christ shall come, with shout of acclamation,
And take me home, what joy shall fill my heart.
Then I shall bow, in humble adoration,
And then proclaim: "My God, how great Thou art!"



Porton Down e as Experiências Secretas no Reino Unido





Porton Down é a mais antiga instalação militar do mundo que efectua experiências com armas biológicas e gases letais que possam ser utilizados em tempos de guerra. Situada nos idílicos campos perto de Salisbury, o secretismo e a segurança à entrada das instalações não ajudam à propagação de rumores sobre as experiências realizadas.

Nesta última década as vítimas que se voluntariaram em Porton Down (militares de baixo ranking) têm aparecido ao público descrevendo como foram ludibriados a participarem em experiências pouco simpáticas por meia dúzia de tostões, tendo ficado com problemas de saúde para o resto da vida. O governo defende-se dizendo que os registos anteriores a 1980 não foram guardados de modo que não podem confirmar ou negar as alegações, abrindo recentemente uma linha S.O.S. para os "traumatizados". 

Pelo que se tem dito Porton Down fez experiências sobre os efeitos do LSD, gases neurotóxicos, bactérias e vírus em mais de 25000 "voluntários" ingleses. Algumas destas pessoas não sobreviveram, tal como o famoso caso do soldado Maddison de 20 anos que teve uma morte horrível devido ao gás Sarin. Na altura diziam aos voluntários que as experiências serviam para descobrir a cura para a constipação.

De 1945 a 1989 efectuaram-se experiências com gases neurotóxicos em 3400 pessoas em Porton Down. Esta investigação começou após o desfecho da Segunda Guerra Mundial quando foram encontradas grandes quantidades desses gases na Alemanha. O Reino Unido sentia-se pouco preparado e informado acerca destes agentes altamente letais e não querendo ser apanhado de calças na mão na altura da Guerra Fria autorizou estas experiências que produziram toneladas de informação sobre o assunto. Os testes iniciais tentavam descobrir a concentração mínima eficaz do gás Sarin, sendo que colocavam os voluntários em câmaras de gás e observavam os efeitos a exposições gradualmente crescentes. A investigação também tentava determinar os efeitos psicológicos e perda de aptidão em situação de combate aquando da exposição. O gás Sarin causa asfixia, vómitos, perda de controlo muscular, convulsões e morte. 

Hoje em dia as instalações de Porton Down funcionam mas a organização defende-se dizendo que no local apenas se investigam estratégias de defesa. As organizações de direitos dos animais chocaram-se quando descobriram que quando Porton Down terminou as experiências em pessoas começou as mesmas  com animais. Porcos a morrer com explosivos na barriga, macacos mortos pelo antrax, etc etc etc. Hoje em dia supostamente só têm uma dezena de animais para experiências.

Existem outras histórias associadas a Porton Down. Por exemplo, a ilha escocesa de Gruinard esteve contaminada com antrax durante 50 anos e mesmo depois do projecto de descontaminação de 1986 em que "empaparam" a ilha com formaldeído, é de conhecimento geral que Gruinard não é sítio de visita, pois os esporos de antrax são mesmo muito difíceis de eliminar.



Também há quem diga que Porton Down libertou por via aérea cádmio fluorescente pela população inglesa para estudar a "geografia" de um ataque aéreo, não se importando com o facto de o cádmio não ser propriamente um agente inerte à saúde humana e ao meio ambiente.

Fora aquilo que a gente não sabe!

Estes ingleses!




sábado, 2 de março de 2013

Vou a Derry na Irlanda do Norte!


Abril é o mês em que vou passear para Derry/Londonderry, a segunda cidade mais importante da Irlanda do Norte. No meu emprego ouvi várias vezes "é melhor não ires, aquilo pode ficar perigoso de um momento para o outro". Tal como há muita gente que depois dos ataques de Londres se recusa a andar de metro, as imagens de violência da Irlanda do Norte assustaram e marcaram os ingleses de forma que uma visita ao local é inconcebível. 
Mas este ano Derry/Londonderry é definitivamente um sítio a visitar, porque para além do lado histórico e da beleza natural, Derry/Londonderry é a cidade europeia da cultura 2013.






Um dos episódios importantes na história de Derry/Londonderry é o cerco de 105 dias imposto pelo rei católico João II em 1689. Os habitantes de Derry/Londonderry que apoiavam o Protestante William of Orange sobreviveram comendo tudo o que lhes aparecia à frente, desde cães que se alimentavam de cadáveres a outros petiscos como os exemplificados no menu da imagem acima. Durante o cerco morreu quase 1/3 dos habitantes de Derry, mas a resistência manteve-se com a ajuda das muralhas que envolvem a cidade num quilómetro e meio. Estas muralhas originaram um terceiro nome para a cidade, "Maiden City",  que significa "cidade nunca conquistada". Londonderry é o termo utilizado pelos unionistas enquanto que Derry é utilizado pelos nacionalistas. Para não ofender ninguém, a cidade aparece sempre como "Derry/Londonderry".