Este é um blog de uma veterinária portuguesa a viver no País de Gales, no Reino Unido! Para amigos, familiares, curiosos e ainda pessoas que estejam a ponderar semelhante experiência!
domingo, 25 de janeiro de 2009
Fim-de-semana em Edimburgo
Trabalhar em clínica de pequenos animais no Reino Unido dá direito a muitas postagens, mas vou tentar conter-me para não escrever de cabeça quente. Por um lado estou muito feliz por esta oportunidade (vou ganhar imensa prática), mas a adaptação não vai ser fácil – é tudo muito diferente!
Este fim-de-semana o chefe lagarto foi dar uma palestra na Universidade de Edimburgo e convidou as suas mais recentes aquisições para irem com ele:
- Sam, licenciada em Bristol e que esteve a trabalhar recentemente como enfermeira vet;
- Claire, francesa que tirou o curso na Bélgica e que foi aprender inglês para a Austrália (foto);
- Eu!
Não deu tempo para conhecer Edimburgo porque só lá estive no Sábado (e tive mesmo de ir a todas as palestras, ficava mal escapulir-me na primeira semana de trabalho), mas pelo menos fomos sair à noite (até às 23h30, uau!) com alguns universitários e alguns dos vets que falaram no congresso. Mesmo assim no meu ponto de vista não compensou a viagem de 8h para lá chegar enfiada na parte de trás de um carro desportivo que não passava dos 100km/h (o meu chefe pode ser muito valente no que toca a cobras mas na estrada parece uma velhinha).
As pessoas de Edimburgo pareceram-me muito acolhedoras. A cidade é muito escura (também era de noite, eh eh) e com edifícios antigos. Vêm-se muitos estudantes nas ruas, muitas lojas de Whisky e pubs agradáveis. Também existem muitos sem-abrigo. A universidade é praticamente no centro da cidade e fez-me lembrar o antigo edifício da FMV em Lisboa, mas vai fechar e passar para um pólo afastado. As propinas de um curso de veterinária andam à volta das 3000 libras anuais (e 20000 libras para quem já tenha outro curso).
Conduzir
Ainda não falei sobre a condução no Reino Unido, são estas as características da condução e estradas inglesas (para além do facto de se conduzir pela esquerda):
- as estradas não são grande coisa e os acessos às grandes cidades são uma desilusão;
- não somos obrigados a andar com os documentos nem temos de ter colete reflector no carro;
- é possível encontrarmos rotundas e semáforos nas auto-estradas quando menos esperamos;
- é comum termos de travar a fundo nas auto-estradas porque de repente os carros ficam todos parados (como na IC19). Neste país pode acontecer ficarmos presos dentro do carro durante 12h enquanto esperamos que as autoridades resolvam o problema (acidentes, inundações, etc);
- não convém ir atrás dos camiões quando está frio, porque podem-nos cair em cima as placas de gelo que estão no topo do veículo e que entretanto começam a descongelar;
- não convém travar quando há gelo nas estradas (muitos carros da Eville and Jones já foram espatifados por causa de derrapagens no gelo);
- é impossível atropelar cães e gatos (não há), mas podemos ter encontros imediatos com pássaros, esquilos, coelhos e veados, que parecem ser estúpidos que nem uma porta porque atiraram-se para cima dos carros;
- as únicas portagens que aparecem são as de algumas pontes;
- não se pode ter um carro português por mais de 6 meses no Reino Unido, mas regra geral ninguém chateia;
- Os ingleses conduzem muito devagar, às vezes chateiam de tão empatas que são (nem 8 nem 80);
- Está na moda ter o carro tão porco que não se consegue ver a matrícula especialmente quando há câmaras de limite de velocidade por perto;
- Os radares não identificados não são permitidos (mesmo assim fui apanhada, dahhh);
- Aqui toda a gente cede passagem ao carro sem prioridade, ao contrário de Lisboa em que temos de nos atirar de forma inconsciente e agradecer no final;
- Por fim, o que mais me irrita são as restrições de estacionamento - permits. Em quase todos os locais (cidades) existe uma plaquinha que proíbe o estacionamento a veículos não residentes (às vezes possível o estacionamento à noite e aos Domingos, que fartura). Não existem grandes alternativas, quanto muito estaciona-se nos parques do centro da cidade e andamos a pé até ao destino desejado (a pagar 1h = 1libra). Ou então estacionamos no supermercado mais próximo e à saída fazemos umas compras para disfarçar. Com um pouco de sorte, a pessoa que vamos visitar tem 1 dístico de estacionamento para visitante. O que é que se pode tirar daqui? Os ingleses não têm o hábito de ir a casa das outras pessoas e estão mais preocupados em preservar a paz de uma rua sem carros do que encher a casa de gente numa almoçarada aos Sábados!
Isto já foi há muito tempo
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
O meu primeiro dia de trabalho numa clínica galesa:
Hoje comecei na clínica! Entrei ao mesmo tempo que 2 coleguinhas, uma inglesa que trabalhou apenas 3 meses como enfermeira veterinária e uma recém-licenciada francesa, que antes de decidir vir para o Reino Unido decidiu ir melhorar o seu inglês… na Austrália (é já ali). O chefe inglês é meio maluco por répteis (se calhar ele próprio é um réptil, como os da série de televisão “V”) e adora Portugal, o seu filho do meio tem um padrinho português. Se calhar foi por isso que me contratou. Ainda por cima está sempre a dizer que os ordenados em Portugal de veterinário são muito mais e que andam pelos 2,5 euros à hora (não sei com quem ele anda a falar, talvez alguém que se ande a passar por coitadinho).
O que se faz no primeiro dia? Anda-se a pastelar pela clínica? Nãooo. Vai-se para uma sala de conferências a 40min de carro apanhar com apresentações dos delegados de propaganda médica sobre os produtos mais utilizados. Até foi interessante apesar do efeito muito soporífero. Fiquei a saber que o Milbemax é ao mesmo preço do que em Portugal e que eles usam mensalmente não por causa da Dirofilariose mas por causa das “lombrigas pulmonares” (Lungworm). Parece-me que os preços são regra geral mais baratos do que os praticados pelas clínicas portuguesas.
Más notícias: não posso usar calças de ganga… Logo eu que só tenho calças de ganga, bah!! Não sei qual é o problema, se é para andarmos sempre com o equipamento da clínica (que são umas calças e uma camisola com o símbolo do sítio). E orgulham-se eles de serem informais (cá para mim eles querem abolir as calças de ganga para disfarçar a falta de rabo das inglesas). Ainda por cima o chefe sai-se com esta “pois, os europeus têm a mania dos jeans”… Os europeus??? Essa espécie estranha tão alheia ao próprio???
sábado, 17 de janeiro de 2009
Mais uma semana, mais uma viagem!
Amanhã vou buscar um carro alugado para poder mudar para Cardiff porque o Lupo ainda está todo eritematoso e sistémico (ainda aguarda caixa de velocidades - azarico). Consegui um carro para 16 dias por 190 libras (depósito de 150 libras) e só me pediram dois comprovativos de residência, a carta de condução e uma identificação válida. Nem sequer pedem o cartão de crédito. Ainda por cima vão buscar os clientes a casa no dia da recolha! Ora se eu ficasse dependente de transportes públicos durante 16 dias iria gastar a mesma coisa. A viagem de ida e volta para Cardiff varia entre os 96 e os 250 libras de comboio e 70 de autocarro (7 horas) e dentro das cidades os bilhetes de autocarro não ficam a menos de 2 libras para quem não tenha passe. Em contrapartida não existem portagens nas auto-estradas. Não é que isto tenha grande interesse, é apenas uma tentativa de entender a perspectiva ambientalista inglesa da utilização dos transportes públicos.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Desafio do ano: não ganhar mais banhas!!
1- está um frio que não se pode e não há sol = desejo incontrolável de comer chocolate e alimentos altamente calóricos;
2- está muito frio ou já está demasiado escuro para que haja vontade de ir a pé a qualquer lado (especialmente quando se tem um carro à nossa espera);
3- não se fazem intervalos decentes para o almoço no trabalho, ou seja, come-se muito à base de snacks
4- como a comida em geral não sabe a nada, é preciso abusar nos alimentos um pouco mais fortes e gordurosos para compensar;
5- se tivermos de comer fora para desenrascar só se arranja comida de Pub e fast-food;
6- como quando mudamos de país estamos preocupados com muitas coisas adiamos a questão de “ter cuidado com a alimentação”…
1+2+3+4+5+6 = muitas banhocassssssssss!!!
O Senhor Super Mosca da Ryanair
Isto é mau, muito mau, pelos vistos as low-cost também estão limitadas quanto à qualidade do marketing. O super-herói da Ryanair é uma mosca azul musculada cujo hino tive o azar de conhecer na viagem para Portugal. Regra geral só põem a música no início (versão instrumental), mas não sei o que aconteceu desta vez, deve ter sido dia de chatear o pessoal porque resolveram deixar a música ligada o tempo todo. E eu a querer dormir. Nas portas dos compartimentos da bagagem de mão lá estava a a imagem da supermosca orgulhosa da sua parvoíce. Este é o videoclip de apresentação do herói senhor super-mosca, só consegui ver até 1/3, haja paciência, isto nem para os miúdos serve. É melhor procurar outra low cost para Portugal, porque esta música entranha-se no cérebro e nunca mais sai.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Este post é para o CB!
sábado, 10 de janeiro de 2009
Bye Bye Eville and Jones
Aqui há uns tempos houve alguém da companhia que estava tão chateado que deixou o carro estacionado no parque short-stay do aeroporto sem dizer nada a ninguém... Eu sou mais do género totó, ainda limpo o carro antes de o entregar.
Saldo da experiência de 2 meses com a Eville and Jones = zero! Ou seja:
Pontos positivos: consegui sair do tédio de trabalhar em Portugal; consegui entrar directamente para um emprego no Reino Unido; fiz novos amigos e o meu inglês está um bocadinho melhor (vou ter sempre sotaque americanado, lá se foram os meus planos de ter o sotaque da Sonya Walger, da série "A mente de um homem casado" e "Lost").
Pontos negativos: o trabalho é chato, não se aprende nada, passa-se frio, não se come nada de jeito (estou cheia de banhoca), não há horários fixos (tirando quem esteja em galinhas), não há tempo para vida pessoal (no meu caso foi assim, mas nem todos os matadouros são como este), não há estabilidade profissional (a companhia não dá garantias), não há igualdade de direitos comparativamente com os trabalhadores ingleses que desempenham o mesmo papel, o ordenado é mau (ainda mais agora com a baixa da libra, quem tiver num matadouro paradinho não tira mais do que 800 euros por mês), há alguma probabilidade de se espatifar o carro, não se passa a OV (Veterinário Oficial) com facilidade, etc etc etc.
Se alguém estiver interessado em vir para cá por esta via que me contacte que eu darei mais pormenores. Acho que esta profissão vai ser cada vez mais instável e com menos benefícios, até aparecer outra doença tipo vacas loucas (agora se calhar vai ser a vez dos porcos malucos), e aí pode ser que volte a ganhar vida. Se não aparecer nenhuma doença bizarra, o orçamento para esta área vai diminuir cada vez mais (ainda por cima estamos em crise) e em vez de portugueses, espanhóis, romenos e polacos passam a ser chineses a desempenhar este papel. Quem veio há 4 anos é que foi esperto, porque entrou directamente para OV (sem passar pela casa partida de se ser inspector sanitário) e agora está com um bom ordenado e em cargos mais interessantes (Lead Veterinarian ou a trabalhar para a DEFRA).
Bem, agora este blog já não vai ter mais “insólitos matadouro”, em vez disso vai ter “insólitos bifes” ou “insólitos pets”!!
Está na hora de ir embora e apanhar um bocadinho de solinho e friozinho em Portugal numas mini-férias (só para chatear há vaga de frio polar exactamente quando eu vou a casa)!!
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
A Chulice do Ano
Pagar 72 libras de comboio entre Leeds e Norwich, numa viagem de 3h30 com uma mudança (sem alternativas de autocarros e sem comboios regionais baratuchos). "What? Seventeen???" Pergunto eu... "No, Seventy!!!" Diz a senhora da bilheteira. E eu pergunto outra vez "Seventeen????", e outra vez ela "Seventyyyyyyyyyyyyy"!!!!
domingo, 4 de janeiro de 2009
Tenho um ratinho verde!!!
sábado, 3 de janeiro de 2009
Ah ah ah, os contratos de arrendamento de cá são uma comédia!
Na semana passada tive um encontro com um possível futuro senhorio num Pub perto de Norwich (cá não é considerado esquisito como seria marcar um encontro num bar em Portugal com um desconhecido, já que não há muitos cafés, pelo sim pelo não levei a Micky comigo). Para adiantar papeladas o senhorio deu-me o contrato de arrendamento para ler antes de visitar a casa em Cardiff. Hoje estava a ler o dito calhamaço quando me lembrei de “postar” aqui as coisas mais estúpidas que aparecem (tudo em nome do Health and Safety).
O arrendatário concorda em:
- nunca utilizar velas, apenas em caso de emergência se faltar a luz (e em festas de anos, não?);
- não causar dano à propriedade nem fazer qualquer alteração ou adicionar qualquer item sem a autorização escrita do senhorio (se eu quiser comprar uma estante, tenho de pedir autorização);
- não subalugar o quarto (a sério???);
- não utilizar a propriedade para fins ilegais ou imorais (o que serão fins imorais? Muito pouco específico…);
- não utilizar frigideiras fundas tradicionais (devido aos gases que a comida associada provoca);
- não fazer barulho irritante (nuisance, annoyance or anti-social behaviour) através de instrumentos musicais como o piano (e então o meu órgão??), rádio ou outros;
- não discriminar ninguém com base no sexo, orientação sexual, deficiência ou raça (esta clausula aparece sempre em todo o lado);
- não colocar bandeiras na casa (nem nos jogos de Portugal???).
No contrato ainda tenho de especificar as minhas 3 anteriores moradas e números de telefone, o meu ordenado actual e anterior e todos os meus empregos nos últimos 5 anos (uiii).