Ainda não tinha falado do meu matadouro, que vende carne Halal.
Xqué isso???
Carne “Halal” é a carne que pode ser consumida pelos muçulmanos, por respeitar o que a lei islâmica diz relativamente à alimentação. Os muçulmanos não podem ingerir carne de porco, sangue, animais que não sejam abatidos em nome de Alá, álcool e insectos (esta última parte parece-me bem). O abate dos animais consumidos por muçulmanos tem de ser feito de forma especial (Zabihah ou Dhabihah). A pessoa que mata o animal tem de ser muçulmana, realizar uma prece por cada animal abatido e fazer um golpe profundo no pescoço do animal sem qualquer método de insensibilização prévio. Ou seja, o animal sangra até à morte - podem imaginar a controvérsia que isto é neste país.
Os donos do meu matadouro não são muçulmanos (nem a maioria dos trabalhadores). São ingleses com olho para o negócio. Encontram as ovelhas mais ranhosas do Reino Unido, aquelas que são tão magras que são praticamente dadas (quase que pagam para se desfazerem delas) e depois ainda conseguem vender a carne a preços mais elevados do que o normal. Agora começaram com o negócio da exportação de borrego para Itália. O negócio deve ter tanto lucro que os donos não se importam muito com a velocidade da linha (cada semana que passa estão cada vez mais lentos).
Todos os OV’s (os vet chefes) que passam pelo matadouro dizem a mesma coisa, que não é um bom sítio para um trabalhar - muitos problemas por resolver e muita falta de limpeza - aliás, nenhum deles conhece nenhum sítio pior (na minha opinião não me parece muito diferente dos sítios portugueses, assim até me sinto em casa).
Os trabalhadores até não são maus, talvez um bocado malucos, como toda a gente que trabalha num sítio destes. Precisavam de um chefe com pulso…
Para mim as maiores dificuldades do matadouro são o frio (brrr) e os dias demasiado longos. Acordar às 4 da manhã todos os dias também não é comigo. Isso é hora de ir para a cama, não de acordar.
De resto o matadouro acaba por ser uma animação pela rebaldaria que é, há surpresas todos os dias, há tempo para conversar e imensas patologias para ver (o que os outros aprendem num ano sobre doenças de ovelhas, eu aprendo num dia). O pior de tudo nem é o trabalho em si, mas a instabilidade de se ser inspector sanitário contratado (nunca se sabe o que vai acontecer no próximo mês. Mas isso fica para outro post!
2 comentários:
O Prémio Nobel islandês e autor do livro "Gente Independente", retrata um mundo agrícola numa terra desolada pelo frio e pela chuva persistente e em que as ovelhas(que valem mais que o homem)sofrem e morrem com lombrigas nos pulmões. Imagino as maravilhosas lombrigas a fazerem tapete no chão desse matadouro. Fazem crac,crac...?
Não... que exagero, também não é assim! no chão encontra-se sangue e bocados de carne, nada de especial. ok, algumas fascíolas hepáticas de vez em quando, eh eh eh. crac crac fazem as baratas!
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