quinta-feira, 26 de junho de 2008

O KIT S.O.S. Emigrante



Em véspera da viagem não é minha surpresa quando recebo cá em casa a prenda mais "jeitosa" para quem ambiciona passar o tempo a cozinhar bacalhau com todos. O KIT, das produções TM Pimbarte/Pastorinhos de Tentúgal, consiste no seguinte:
- uma bandeira de Portugal (genuína) para servir de touca no matadouro;
- uma revista Maria da semana, com o final de "Fascínios";
- um magnífico postal do the barcelos cockerel;
- um CD do Mickael Carreira para os momentos mais solitários (e para ver se consigo ter finalmente o cabelo igual com a humidade inglesa);
- uma moldura com o Tony Carreira (autografada);
- um DVD do jogo do Euro 2000 de Portugal-Inglaterra (3-2), entitulado "A Reviravolta: Beckham vs Rui Costa";
- uma T-Shirt "I Came To England And All My Friends Gave Me Was This Lousy T-Shirt!!!" com uma fotografia dos Pastorinhos de Tentúgal: Tata, Neizhbour, Lizard e PeeJay;
- um corta unhas dos grandalhões com uma bandeira de Portugal impressa, para cortar todas as unhas menos uma;
- e ainda... 2 palitos! Um para andar no bolso e outro na boca. Não podem ser levados no avião por perigo de ser confundida com terroristas, mas não faz mal, vão no porão.
Obrigada Pastorinhos!!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Preparativos e Despedidas

Não é fácil deixar tudo pronto antes de ir embora. Deixo já aqui as minhas desculpas a quem não coloquei ao corrente dos meus planos e a quem não fui visitar mas que devia e queria. Eis o que me tem ocupado:

- estágio no matadouro da SR para me ir ambientando às lindas carcaças fumegantes;
- check-up saúde;
- ensinar mãe a fazer uma data de tarefas no computador (passar fotografias, “postar”, “scannar”, trabalhar imagens,…);
- apanhar "solinho" (apesar de fazer parte dos preparativos, a minha pele não gostou da ideia, fez questão de cair em protesto);
- arrumar o quarto (alguma vez tinha de ser…);
- estudar os regulamentos de inspecção (yeah right, plano não concretizado);
- fazer festas (não falo de festas à gata, quanto a essa parte estou a fazer uma espécie de desmame, assim como ao café). As festas “party” são uma boa razão para uma pessoa mudar de vida de 2 em 2 anos no mínimo (em caso de tédio, se calhar é melhor de 6 em 6 meses). Não podemos chamar de “festas de despedida” quando hoje em dia há telefonemas à borla e aviões low-cost, por isso passo a fazer como os ingleses fazem com os feriados (spring bank holiday) e designar estas despedidas como “festas de verão”. Para além disso as “despedidas” são deprimentes, daí que há muito que foram abolidas do meu dia-a-dia (só vai haver uma despedida na minha vida, o que é o suficiente). Falando dessas festas, agradeço à SR e à FT a fantástica prenda que me ofereceram (ver foto), original, prática, e cheia de sentido de humor. Não é a gata, se bem que ela também tem muita piada quando começa a miar às 5 da manhã. Trata-se do facalhão jeitoso, que me vai ser muito útil assim que descobrir maneira de o mandar para o Reino Unido sem levantar suspeitas de terrorista. Já me estou a imaginar no aeroporto "it's for cutting pig kidneys in halves!" Macabro!
Legenda:
SR: SuperReboliço (vet com maior número de actividades profissionais que eu conheço)
FT: pessoa com o maior número de cães amarelos simpáticos (questão intrigante levantada pelo meu sobrinho)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Boas notícias para os vets UK!


No site da UKPets (um portal importante sobre animais de estimação no Reino Unido) encontrei um artigo de 17 de Junho sobre um estudo relativo à rentabilidade das mais variadas actividades privadas. Qual é o negócio com maior retorno económico? Tarararammmm... O de medicina veterinária de pequenos animais!

Chris Lowry, a partner at the national accountancy group UHY Hacker Young, commented: "With veterinary science having one of the longest training periods of any professional qualification, the very high barriers to entry mean that vets can ensure they are well rewarded for their work. Although veterinary businesses carrying out the more costly procedures clearly have to invest in any specialist equipment or extra training required, they appear to be getting the necessary economies of scale to make the return on that expenditure very worthwhile."
Acho justo, assim é que devia ser por toda a Europa...


quinta-feira, 12 de junho de 2008

Eville and Jones – a porta de entrada dos portugueses para o Reino Unido



A Eville and Jones é a empresa pela qual a maioria dos veterinários entram no Reino Unido, porque é muito difícil chegar lá sem nada e conseguir alguma coisa (emprego, alojamento, conta no banco e segurança social). Depois o que acontece é que muitos saem desta empresa para se dedicarem aos "pets" ou então mudam para empresas equivalentes que ofereçam melhores oportunidades. Também há quem se mantenha sempre na Eville and Jones e seja da opinião que é das empresas que dá as piores mas também as melhores oportunidades/remunerações dentro da área (nos cargos mais elevados). É sem dúvida a que emprega mais veterinários em inspecção (quase 200 pessoas).

A EJ é uma empresa privada contratada pelo governo encarregue de garantir a segurança alimentar e bem estar animal na indústria alimentar. Basicamente o que acontece é que os veterinários ingleses não têm interesse no trabalho de inspecção sanitária nem nas respectivas remunerações, de modo que este tipo de empresas publicita a actividade nos outros países onde existe excesso de veterinários (Portugal, Espanha, Polónia, etc) para conseguir novos inspectores sanitários para o Reino Unido. Mesmo sendo consideradas baixas para um veterinário inglês, as remunerações oferecidas no Reino Unido acabam por dar muito mais flexibilidade, estabilidade e qualidade de vida do que as remunerações actuais em Portugal (ainda por cima cá a maioria das ofertas são a recibos verdes ou a estágio profissional). Isto tudo para além do facto de termos direito a férias, a carro e a telemóvel da empresa. Também todas as horas laborais que se façam fora do previsto são pagas como horas extraordinárias (inclui alguns fins de semana, se bem que entendi que raramente se trabalha ao Sábado - deve depender dos matadouros).

Quanto ao trabalho em si, consiste no trabalho de inspecção sanitária - MHI (Meat Hygiene Inspector). Ao contrário de Portugal, o inspector sanitário só trabalha na linha do matadouro e não tem de lidar com papéis e HACCP. Essas tarefas são deixadas ao supervisor veterinário - OV - Official Veterinarian - cargo hierarquicamente superior e a etapa seguinte na ascenção na empresa. O curso de OV é organizado e pago pela empresa, tem a duração de 4 semanas e só se pode candidatar quem tenha trabalhado durante 6 meses como MHI.

Para quem não se importe de ir mais longe, existe ainda a hipótese de transitar do Reino Unido para a Dinamarca para inspecção de suínos, com a vantagem de haver melhores condições (remuneratórias e de alojamento).

Enfim, vou então fazer parte do fenómeno da "fuga de cérebros" que está a ocorrer em Portugal, por falta de oportunidades dignas (ninguém pode dizer que não tentei ficar por cá). Claro que nem toda a gente tem de fugir, ainda existem boas oportunidades em Portugal, mas é preciso ter um pouco de sorte (e "costas quentes").

sexta-feira, 6 de junho de 2008

CPD's - Continuing Professional Development


Em Portugal andam os veterinários em pânico com a possibilidade da revalidação da carteira profissional condicionada à formação contínua. É isto que eu ouço por todo o lado:

"Não ganhamos para a formação!"
"Não temos tempo para ir a formações, já que trabalhamos que nem uns porcos!"
"Vivo nas Flores e é injusto ser obrigado a ir a formações que só existem nos grandes centros!" "Optei por outra actividade profissional mas continuo a ser veterinário, e para o básico não é preciso formação, não é justo que nem uma vacina possa administrar!"
"Já investi muito na minha formação, agora tenho uma vida familiar que não me permite uma dedicação tão extrema como a que tinha quando era recém-licenciado!"
"Quem nos emprega não pede formação, pede disponibilidade para trabalhar a custo baixo!"
"Eu estudo melhor por livros, em congressos adormeço sempre!"
"Eles querem é dinheirinho, estão de braço dado com as entidades de formação e quem se lixa sempre é o elo mais fraco - o veterinário dos recibos verdes!"

(Ainda bem que esta guerra já não é minha...)

No Reino Unido existem os CPD's - Continuing Professional Development. A RCVS recomenda (e não obriga) 105 horas em 3 anos com um mínimo de 35 horas por ano (é capaz de equivaler a 2 fins de semana + 1 assinatura de revista, nada de especial portanto). Percebe-se que o objectivo é tornar esta recomendação uma obrigação num futuro próximo (necessário uma alteração do "Veterinary Surgeons Act 1966"). A RCVS tem uma atitute realista, revela a dificuldade em avaliar comparativamente o esforço de cada veterinário de forma justa e adequada. Permanece uma obrigação ética de cumprir os mínimos dos CPD's. Quem não os tenha fica automaticamente fora do plano de acreditação de veterinários implementado pela RCVS com o objectivo de diferenciar as clínicas veterinárias de qualidade (RCVS Practice Standards Scheme).

A empresa para a qual vou trabalhar garante a oferta de formação que corresponda aos mínimos dos CPD's. Vamos a ver se cumpre (sempre a desconfiança portuguesa)... De qualquer forma de certeza que por iniciativa própria farei muito mais do que isso.

Royal College of Veterinary Surgeons



Para qualquer veterinário que queira trabalhar no Reino Unido, a inscrição no Royal College (a versão melhorada da OMV) é absolutamente indispensável. Para a inscrição é necessário:

- carta de curso (diploma) traduzido oficialmente. As traduções podem ser autenticadas na embaixada (caríssimo) ou realizadas por tradutor oficial. Também devem poder ser feitas por notário (acho eu). As escolas tipo British Council já não fazem traduções oficiais. Quem não tenha o diploma pode utilizar o certificado com as notas discriminadas. Conheço quem tenha utilizado o certificado básico, mas não sei se de momento estão a aceitar (o das notas aceitam de certeza).
- Letter of Good Standings - certificado que garante que o veterinário esteve inscrito na Ordem e que nunca teve um processo por má conduta profissional. Para se obter o certificado faz-se um pedido por escrito à OMV. No meu caso demoraram uma semana e não tive de pagar nada (milagre), apenas tive de actualizar as quotas. O certificado não necessita de ser traduzido oficialmente porque já vem em inglês.
- Identificação - para evitar confusões o melhor mesmo é tirar o passaporte, porque os ingleses olham para o nosso BI com desconfiança (não sabem interpretá-lo).
A inscrição no RCVS só pode ser feita em dias específicos do mês (ver site em Membership and Registration). O pior desta história toda é o valor das quotas... Anualmente paga-se 285 libras (o ano inicia em Abril e a contagem é por trimestre). Isto equivale de momento a 419 euros!!! Para além disso ainda se tem de pagar a inscrição - 71 libras, bah...