segunda-feira, 27 de maio de 2013

Irlanda do Norte - dia 3 - Belfast

O terceiro dia da viagem à Irlanda do Norte foi dedicado à capital Belfast!

Começámos por tomar um cafézinho no centro, num dos meus sítios predilectos - o café Nero - uma cadeia de cafés no Reino Unido um pouco melhor que a Starbucks ou Costa. O ambiente no centro de Belfast parecia cosmopolita! Assim à primeira vista, Belfast parecia-nos mais apropriada para ser a Capital Europeia da Cultura, em oposição a Derry/Londonderry. Pessoas de todos os tipos e gerações deambulavam tranquilamente pelas ruas, que num domingo de manhã têm alguma dificuldade em despertar - muitas lojas só abrem ao meio-dia! Claro que esta sensação de Capital Europeia da Cultura foi por água abaixo assim que visitámos o resto de Belfast...

 

Para se ter uma ideia da cidade optámos por apanhar o famoso autocarro vermelho para turistas, que passava pelos sítios mais relevantes num circuito de 90 minutos. Para além de relatar os pontos mais importantes e explicar um pouco da história de Belfast, o guia do autocarro ia lançando-se umas piadas, principalmente sobre o sotaque dos irlandeses. Por exemplo, existe alguma confusão entre as palavra "map" (mapa) e "mop" (esfregona), que em Belfast se dizem da mesma maneira, dificultando a vida aos turistas.


Assim que o autocarro vermelho saiu do centro, comecámos a ver uma parte menos agradável de Belfast. Muitos edifícios abandonados e destruídos, murais de protesto, bandeiras penduradas nas janelas, bordos dos passeios pintados consoante a bairro, muros a separarem as diferentes zonas e as carrinhas de polícia  fortemente preparadas para eventuais retaliações. 










Existem murais de diferentes tipos, protestantes (loyalistas ou unionistas), católicos (republicanos ou nacionalistas) e os socioculturais. Muitos murais foram retirados por serem considerados demasiado violentos. Ao todo são mais de 200 murais e podem ser vistos em slideshow neste link.

Ficou-se com a sensação que os Belfastianos não sabem o que fazer com os turistas, sendo parciais quando relatam o conflito, por um lado envergonhados do passado recente, por outro gozando com outro tipo de "cultura" ou "história" não relacionada com o conflito, como o mais recente Museu do Titanic. Qualquer estátua que seja erguida recebe logo alcunhas prejorativas, sendo sempre criticada - os habitantes de Belfast acham que gastar dinheiro com cultura é contraproducente - preferem continuar a acreditar que não é possível evoluir de um passado tão incomodativo? 



Este é o Museu do Titanic, não tivemos tempo de o visitar e parece que não se terá perdido muito (fiquei sem saber se é verdade ou não). Os Belfastianos preferem escolher a prisão onde decorreu a "greve de fome/hunger strike" como principal atracção turística de Belfast.



No final demos outra voltinha pelas ruas da cidade e deparámo-nos com uma "parada"! Na Irlanda as paradas são um acontecimento comum - são desfiles realizados pelos diferentes grupos para afirmar a sua posição e "marcar território". Neste dia era a vez dos "Orange" fazerem a parada, uma das principais organizações do lado protestante. As únicas pessoas que davam alguma atenção ao acontecimento eram os turistas. Haviam muitos polícias em todo lado armados até aos dentes. De repente avistamos o que parecia ser um maluquinho que nunca cortou o cabelo e que trazia todos os seus pertences na bicicleta. Veio ter connosco achando-se na obrigação de nos explicar o que estava a acontecer. A minha mãe perguntou "good or bad?" ao que ele respondeu "gooood!! very gooood!"
No dia seguinte vimos no jornal que a parada desafiou as regras estabelecidas ao parar a frente de uma igreja católica - a Catedral de St. Patrick (padroeiro da Irlanda) - e em atitude de provocação tocaram o hino da fome. Porreiros estes irlandeses!

Irlanda do Norte - dia 2 - Visitar a Costa

No segundo dia da visita à Irlanda do Norte resolvemos pegar no carro e visitar a costa. Tivemos muita sorte com o tempo, foi o único dia em que esteve sol (e visitar a costa com chuva não dá). A viagem de carro pela costa da Irlanda do Norte é supostamente uma das mais bonitas do mundo, mas sinceramente fiquei desiludida - não achei nada de especial! Claro não tive tempo de ver tudo, apenas deu para visitar a parte de DerryLondonderry até Carrick-a-Rede, mas pela qualidade da amosta não fiquei com vontade de ver o resto (mais do mesmo?). Também não ajuda o facto de se ter de pagar bastante para visitar os pontos importantes - isto de pagar 7 libras para visitar e tirar fotografias a um castelo que apareça de 20 em 20 minutos fica incomportável. Outra coisa que desiludiu foi o facto da estrada raramente acompanhar a costa - ao conduzir sabemos que estamos perto e de vez em quando vê-se o mar - mas não é a estrada de sonho  que eu estava à espera. Não houve um Uau. Portugal é muito mais bonito, assim como o País de Gales e a Escócia.


Na estrada da costa entre DerryLondonderry e Belfast, os três pontos mais importantes de visita são o Dunluce Castle, o Giant´s Causeway e Carrick-a-Rede. Não chegámos a ir a Carrick-a-Rede, apenas vimos o local de longe, trata-se de uma ponte suspensa artesanal à Indiana Jones).


Dunluce Castle - são ruínas de um castelo medieval - é engraçado mas paga-se para entrar. Estava à espera que fosse muito maior.



Giant´s Causeway é Património Mundial da Unesco e é o local mais visitado da Irlanda do Norte. Consiste numa praia com formações geológicas atípicas - as famosas colunas hexagonais de basalto - que se formaram devido ao arrefecimento rápido de lava vulcânica há 50 milhões de anos atrás.  Recentemente transformaram o local de forma a que entrada seja um museu - infelizmente paga-se um dinheirão para se ver um fenómeno natural. Apesar do museu ser arquitectonicamente interessante e estar bem enquadrado na paisagem, o conceito de transformar a área natural num local comercial reduz a beleza do fenómeno.  

Como há um sítio na Escócia com pedras semelhantes (Fingal´s Cave), existe uma lenda que diz que foi o Gigante Finn que construiu as pedras para fazer uma passagem para a Escócia, com o objectivo de combater um gigante escocês. Cada estrutura geológica do Giant´s Causeway tem uma história, podemos ver o órgão (foto), a bota, o camelo, etc. Faz lembrar as rochas da Ponta da Piedade em Lagos que também se parecem sempre com alguma coisa.  Tivemos direito a um audioguide que a cada esquina contava-nos estas lendas sobre o Gigante, mas com um discurso bocadinho infantil e irritante, condizendo com o marketing que se faz ao local.

Achei o local interessante mas estava à espera de muito melhor (como já disse aqui, em Portugal há sítios muito mais giros, assim como no País de Gales).



Visitar a Irlanda do Norte - dia 2 - Dark Hedges



A Irlanda do Norte é um país pequeno e se se alugar um carro chega-se a todo lado num instante (se bem que pode ser difícil encontrar-se bombas de gasolina). A paisagem varia bastante, algumas zonas têm montanhas que fazem lembrar a Escócia, enquanto que outras áreas são planícies verdes dos campos de cultura e ainda podemos apreciar a paisagem rochosa da costa. As aldeias, que como o país é pequeno nunca ficam muito isoladas, têm estradinhas pequenas e parecem paradas no tempo. E claro, sempre muitas ovelhas! Num dia de sol estas paisagems bucólicas são muito bonitas, mas quando está mau tempo a mesma paisagem torna-se sufocante. E finalmente temos as cidades - as mais importantes são Belfast e Derry/Londonderry- que não são assim bonitas como isso. Quanto às pessoas, parecem-me iguais aos ingleses mas muito mais antipáticas e desagradáveis (serão mais infelizes?). Tendo visitado Dublin no ano passado, achei Dublin uma cidade mais bem-disposta.

Mas existe um ou outro cantinho interessante. Cada vez que se procuram imagens na internet sobre a Irlanda do Norte aparece sempre uma fotografia de uma estradinha com árvores que faz a maravilha dos fotógrafos. O local tem um nome dramático - chama-se "The Dark Hedges" e fica em Antrim, não sendo muito fácil encontrá-lo. Não se trata de um sítio turístico nem tem de o ser, porque é apenas isso, uma rua com árvores, mas mesmo assim gostei de o visitar pela sua peculiaridade. Há 300 anos atrás houve um conde que decidiu plantar as faias nesta estrada e hoje em dia as árvores são grandes e formam um túnel de ramos entrelaçados, parecendo um cenário de um filme de Tim Burton. O local é bonito especialmente ao final do dia. É essa luz especial que existe no norte da Europa, a luz do final do dia que faz com que tudo fique muito nítido - a contrastar com a luz baça do meio-dia. Infelizmente quando visitei as árvores estas estavam despidas, seria interessante voltar no final de Maio. Mesmo assim atravessámos a rua muitas vezes e tirámos imensas fotografias!


Irlanda do Norte - Dia 1 - Derry/Londonderry 2

Derry ou Londonderry ainda está muito marcada pelo Bloody Sunday e outros episódios violentos entre protestantes e católicos. Aliás, os sinais de trânsito que dizem Derry/Londonderry têm sempre um graffiti a riscar uma das palavras. Os católicos detestam tudo o que tenha a palavra "London" e recusam o nome "Londonderry". Para não correr o risco de ofender ninguém é melhor chamar à cidade de Derry/Londonderry e aos seus habitantes Derrianos/Londonderrianos. Não é muito prático. Arranjem um novo nome por favor.

DerryLondonderry é uma cidade muralhada - os muros dão a volta à cidade em 1.5km. Enquanto que dentro das muralhas vivem os protestantes, do lado de fora das muralhas encontramos o bairro de Bogside onde vivem os católicos que ainda hoje pintam os nomes das mártires do conflito nas muralhas. Cada vez que Londonderry tenta erguer uma estátua comemorativa nas muralhas, os católicos de Bogside-Derry destroem o projecto com uma bomba! Em Bogside existem alguns murais e o museu Free Ferry. Resolvemos visitar o museu porque tem uma visita guiada à cidade.


Este mural Free Derry é muito conhecido mas parece ser uma imitação de um mural americano alusivo à guerra do Vietname. Curiosas é a frase escritas em baixo "ding dong the witch is dead" referente à recente morte da Thatcher, que era verdadeiramente odiada pelos católicos irlandeses. Uma vez quase que a conseguiram assassinar com uma bomba numa conferência em Brighton em Inglaterra. Aparentemente no dia do funeral houve uma grande festa em Bogside, alguém escreveu aquelas palavras e agora ninguém tem coragem de as tirar do principal mural que representa o conflito da cidade.




Em cima está a entrada do Museu Free Derry, um museu de pequenas dimensões com fotografias e alguns itens referentes ao conflito. À porta do museu existe um mural da Palestina, cujo conflito os irlandeses consideram semelhante ao seu.


Esta é a vista das muralhas para Bogside, a parte dos católicos. A paisagem é toda muito igual e lembra as partes mais pobres do Reino Unido.

O guia do museu era um velhote muito simpático de bóina que tresandava a álcool. Levou-nos aos murais contando a história mais recente do conflito, sob o ponto de vista dos católicos. Dizia de cor os nomes de todas as pessoas que morreram no conflito, algumas dos quais ele conheceu pessoalmente. Quando falou do irmão, preso na greve de fome, o guia não conseguiu esconder a emoção e uma lágrima ou outra surgiu. O ódio está bem presente e pela ideia que o guia nos deu não há perdão possível, os católicos nunca se vão esquecer de como foram tratados pelo poder inglês - tratados como pessoas de segunda categoria, sem direitos civis - sendo que Londres nunca deu grande importância à situação, achando as queixas irrelevantes e não tendo paciência para aturar as atitudes violentas do IRA. Mas nem tudo é mau - o guia disse muito bem do Primeiro Ministro David Cameron, que há pouco tempo se dignou a ir a DerryLondonderry, convidando as famílias das vítimas do Bloody Sunday a assistirem a uma cerimónia para reconhecer o sofrimento passado sem tentar arranjar desculpas esfarrapadas como os políticos anteriores o fizeram. 

Visitando a Irlanda do Norte - Dia 1 - Derry/Londonderry 1!

Estando no País de Gales a Irlanda fica perto, sendo barato para passar lá uns dias. Existem voos várias vezes ao dia de Cardiff ou Bristol para Belfast a preços convidativos (digamos que fica mais caro ir do Porto a Lisboa). Sempre tive curiosidade em conhecer a zona apesar de toda a gente da clínica me dizer para não ir - o medo da violência ainda está muito presente. Este ano foi dado a Derry/Londonderry o título de Capital Europeia da Cultura. A cidade de cultural não tem nada e em Abril como ainda está muito frio não havia nada de interessante a acontecer. Talvez tenham dado o título à cidade como um empurrão para que os "londonderrianos" abram os olhos e deixem o conflito para trás. A pacificação entre os católicos/protestantes é um processo muito recente, o que faz com que ainda seja muito fácil que todo o trabalho feito até à data possa ser destruído, principalmente no clima económico recente. 

Infelizmente apanhámos mau tempo durante a visita a DerryLondonderry. Queríamos comprar um gorro de jeito porque estava um frio gélido mas no final de Abril as lojas estupidamente não têm artigos de Inverno,  estando mais focadas a tentar que as pessoas comprem biquinis. As lojas são as mesmas que existem em Inglaterra, nada de novo aqui. Sem gorro disponível lá continuámos a visita a tiritar os dentes, com o objectivo de dar a volta às muralhas de DerryLondonderry. Claro que reconhecíamos os outros turistas quando víamos grupos de pessoas com casacos quentinhos, gorros, cachecóis, luvas e pescoços encolhidos (principalmente espanhóis e franceses, os ingleses não visitam a Irlanda do Norte com medo que lhes cuspam para cima). 



DerryLondonderry é rodeada por uma muralha circular. A área dentro das muralhas é muito pequena, com  pubs e alguns centros culturais para jovens. A cidade tem crescido para além das muralhas, mas continua com um ar de "vila pequenina" contrastando bastante com o ambiente citadino de Belfast. 


A catedral de St. Columbus é uma referência em Derry/Londonderry.




Já fora das muralhas, Derry/Londonderry é atravessada por um rio e tem uma ponte pedonal bastante moderna e gira de atravessar (quando não está vento), onde num dos dias tentaram juntar o maior número de pessoas vestidas de noiva para o Guiness Record

Passear ao longo do rio é agradável. Encontram-se muitas pessoas a fazer jogging, o que é sempre um grande choque para nós portugueses que não estamos habituados a tantos desportistas.



No final do dia tivemos de ir ao supermercado comprar coisas para o pequeno-almoço e pagámos com libras inglesas (as notas da Irlanda do Norte e da Escócia têm um padrão diferente). Talvez seja por isso que a senhora da caixa foi tão desagradável e antipática, se calhar julgou que eramos de Inglaterra! Um grande contraste para quem vem do País de Gales.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Quem nunca se casou em Gretna Green?


Existe uma pequena aldeia na Escócia que é considerada a Las Vegas do Reino Unido. Como assim? Las Vegas? Casinos? Nada disso, estou a falar de Gretna Green, uma terrinha de 2000 habitantes conhecida pelos casamentos de última hora ou "runaway marriages". 

Tudo começou em 1754 quando as leis da Escócia e Inglaterra sobre casamentos se diferenciaram. Passou a ser possível que na Escócia rapazes de 14 anos e raparigas de 12 anos se casassem sem o consentimento dos pais. Como Gretna Green ficava na fronteira da Escócia com a Inglaterra, inevitavelmente começou a ser invadida por noivos ingleses em fuga de familiares discordantes. A afluência era tal que os ferreiros da aldeia passaram a ser padres em part-time

Hoje em dia o mundo da Jane Austen já se encontra muito longe da realidade e se no Reino Unido um casal quiser casar de um dia para o outro vai ter de esperar uma ou duas semanas para ter os papéis aprovados. Mesmo assim, a fama de Gretna Green permaneceu, e actualmente celebram-se cerca de 5000 casamentos por ano! Toda a gente conhece alguém que se casou em Gretna Green!